Igreja Matriz

As informações sobre a nossa valiosíssima igreja são poucas. Apenas podemos destacar aquilo que é observável pelo olho humano.

Na ombreira da porta lateral podemos observar uma data, 1768, esta não indica a data de construção mas sim de reconstrução que lhe deu o aspeto que ainda hoje podemos observar.

Quem vê a igreja bonita por fora, fica deslumbrado pelo seu interior.
Ressaltam à vista vários aspetos legados pelo período barroco: a talha dourada, as pinturas e as esculturas que revelam todo um ambiente sumptuoso. Costuma-se datar a época barroca entre os anos 1600 a 1750, logo anterior à data da ombreira.

No altar-mor podemos observar a imagem de N.ª Sr.ª da Assunção no seu trono de padroeira da freguesia; o Sacrário tem na sua porta a imagem do Cordeiro, símbolo de Cristo, e é encimado pela Cruz. Na lateral do altar encontram-se as imagens de Sto. António e S. Roque. 

Três belos quadros enriquecem as paredes laterais: Nascimento do Menino Jesus, a Adoração dos Magos e N.ª Sr.ª e o Menino entre Anjos Músicos. Este último é atribuído ao pintor de renome Grão-Vasco e terá sido encomendado por volta de 1535 (posição defendida pelo historiador Vítor Serrão). Na abóbada do altar-mor encontramos ainda pinturas barrocas dos Doutores da Igreja.

Ao longo da nave, outras importantes obras de arte embelezam a Igreja: S. Lourenço (séc XVI), Sta. Quitéria, N.ª Sr.ª Rainha dos Anjos e N.ª Sr.ª da Conceição, entre outras. Há ainda a registar as tábuas que expõem o Senhor dos Aflitos, S. Jerónimo e S. João Baptista.

Na portaria do Ministério da Cultura, publicada a 7 de Fevereiro no Diário da República, a Igreja Matriz de Aldeia Viçosa é classificada como Imóvel de Interesse Público por ser uma "peça única no panorama arquitectónico e artístico da Beira Interior".

 (Informação retirada de As Mais Belas Igrejas de Portugal, Verbo, 1998, Vol I, p. 210.) 

Arquitetura religiosa, barroca. Igreja paroquial de planta longitudinal composta por uma nave, capela-mor mais estreita, sacristia e torre sineira adossadas à fachada lateral esquerda, com coberturas interiores diferenciadas em falsas abóbadas de berço de madeira, a da nave de perfil abatido, iluminada por janelas retilíneas rasgadas nas fachadas laterais. Fachada principal em empena, rasgada por portal de verga reta, flanqueado porpilastras e rematado por frontão triangular, rasgado por óculo circular. Fachadas flanqueadas por cunhais apilastrados, rematadas em friso e cornija, a lateral esquerda com porta travessa de verga reta e remate em frontão interrompido. Interior com púlpito no lado do Evangelho, tendo acesso pelo muro lateral, confessionários embutidos, batistério no lado do Evangelho, junto à torre sineira, e capelas laterais em arco de volta perfeita, duas com retábulos de talha dourada e policroma rococós. Arco triunfal de volta perfeita, revestido a talha dourada, que prolonga a estrutura dos retábulos colaterais dispostos em ângulo, do estilo barroco nacional. Capela-mor com retábulo-mor e as ilhargas revestidas a talha dourada do estilo nacional, o primeiro de planta côncava e três eixos.

Número IPA Antigo: PT020907040031

igreja 001.jpg (839242) - artigo do O jornal de Aldeia Viçosa, 2002

Cronologia

1530-1540 - Encomenda de pintura por Estêvão de Matos, promotor de justiça e correição da Guarda, criado e escudeiro de D. João III e vedor das obras da Guarda, talvez a Vasco Fernandes (SERRÃO). (Nota: esta atribuição foi muito contestada por Dalila Rodrigues, Pedro Dias e Adriano Vasco Fernandes, sendo atribuído por Pedro Dias, em 1978, a Gaspar Vaz.)

1628 - Compilado um manuscrito sobre os Usos e Costumes da Igreja de Aldeia do Porco, primitivo nome da povoação;

1660 - Falecimento de Estêvão de Matos, sepultado na igreja;

Séc. 18, inícios - feitura do retábulo-mor e da talha das ilhargas da capela, integrando as pinturas quinhentistas e pinturas dos Evangelistas do séc. 17; feitura dos retábulos colaterais e decoração do arco triunfal; provável pintura da cobertura da capela-mor;

1768 - Data nos frisos do portal axial e lateral, revelando a sua feitura; provável feitura das janelas e respetivas modinaturas da nave;

1773 - Mandada ornamentar pelo bispo da Guarda. D. Jerónimo Rogado, sendo feitas as capelas laterais;

Séc. 19, início - saqueada pelos franceses;

1883 - Data no friso da porta travessa, revelando uma intervenção no imóvel;

1919 - Compra de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição à paróquia de Vila Cortês do Mondego;

1939 - A povoação deixou de se designar Aldeia do Porco, passando a ser Aldeia Viçosa;

2000 - Entra no IPPAR um processo de classificação, contestado pela Diocese da Guarda;

2001 - Março - o IPPAR confirma a Junta de Freguesia como legítima proprietária do edifício;

2002, 23 Outubro - classificação do imóvel por despacho do Ministério da Cultura.

PATRIMÓNIO DE INTERESSE PÚBLICO

IIP - Imóvel de Interesse Público, Portaria nº 148/2005, DR, 1ª série - B, de 7 fevereiro 2005

Grau 2: imóvel ou conjunto com valor tipológico, estilístico ou histórico ou que se singulariza na massa edificada, cujos elementos estruturais e características de qualidade arquitetónica ou significado histórico deverão ser preservadas. Incluem-se neste grupo, com exceções, os objetos edificados classificados como Imóvel de Interesse Público.

Enquadramento:

Urbano, isolado, implantado no centro da povoação, situada entre o sopé da Serra da Estrela e o Vale do Mondego; surge num amplo largo, com ligeiro declive, que constitui o adro, parcialmente murado, adaptando-se ao desnível do terreno, sendo o muro baixo e de alvenaria rebocada a cimento.

É pavimentado a cubos de granito com réguas em lajeado do mesmo material, formando apainelados retilíneos, e pontuado por várias árvores de médio porte.

Junto às fachadas lateral e principal, surgem canteiros delimitados por sebes, com vários arbustos, entre os quais roseiras, o frontal formando um pequeno jardim com lago circular ao centro, em cantaria de granito com bordo boleado e repuxo central.

Adossado à torre sineira, surge um banco de cantaria e, junto à entrada do lado N., no pavimento, aparece uma lápide com a seguinte inscrição: "AQUI JAZ / O NOSSO / AMIGO / O SENHOR / SIMAO / DAO(...) / (...) / MORREO 4 DE MARÇO (...)". O largo é rodeado por várias casas de habitação unifamiliar, uma ostentando data de "1722" e elementos fitomórficos na verga da porta e outra, na R. da Cerca, com a data "1858".

Adossado ao muro do adro, no ângulo NE., surge uma fonte de espaldar, em cantaria de granito, rematada por coluna jónico-toscana e por pináculo galbado.

 

Descrição complementar

Os retábulos laterais são semelhantes, de talha dourada e policroma de marmoreados fingidos de azul e rosa, de planta reta e um eixo definido por duas colunas coríntias, de fuste liso, assentes em consolas; ao centro, nicho de perfil contracurvado, sobre banco ornado por cartela envolvida por acantos; remate em fragmentos de frontão, encimados por anjos de vulto, pintados a imitar cantaria, que enquadram espaldar recortado, rematado em cornija e com resplendor a envolver glória de querubins; altar em forma de urna com ângulos ornados por "ferronerie" e cartela central de acantos e concheados.

O do lado do Evangelho, possui painel fundeiro pintado com motivos florais sobre fundo azul claro e integra três mísulas; o oposto tem painel pintado a representar as Almas do Purgatório, resgatadas por anjos.

Túmulo no altar da Conceição com a seguinte inscrição: "AQUI JAZ ESTEVA DE MATOS E SUA MOLHER / ISABEL GILL O QUAL FOI CRIADO DOS RE / IS DO(m) MANOELL E DO (m) JOM TERCEIRO E FO / I SEU CHA(N)CERELL E PROMETOR DA IUST / IÇA NESTA COREIÇAO E GUARDA O Q(ua)LL FALECE / O NA ERA DE MIL 6 E SESENTA ANOS".

Os retábulos colaterais são semelhantes, de talha dourada e lacada de vermelho, de planta reta e três eixos definidos por quatro colunas torsas ornadas por pâmpanos, assentes em consolas, que se prolongam em duas arquivoltas torsas, unidas no sentido do raio, tendo, no fecho alusão aos oragos: o do Evangelho com uma grelha e o oposto com um rosário; ao centro, nicho pouco profundo de volta perfeita, com os fundos pintados a imitar brocados, com mísula contendo imaginária; os eixos laterais possuem apainelados de acantos dispostos simetricamente, contendo mísulas; banco com painéis de querubins e acantos e, ao centro, sacrário envolvido por moldura de acantos e querubins, com porta decorada pela cruz envolvida por vide; altares em forma de urna, com decoração semelhante aos dos retábulos laterais.

Época de construção Séc. (?) 16 / 17 / 18

Arquiteto / Construtor / Autor: PINTOR: Escola de Viseu (1530-1540).

Materiais: Estrutura em cantaria de granito, rebocada interiormente; escadas, modinaturas, cruzes, plintos, pilastras, base do púlpito, sotobanco do retábulo-mor, pias de água benta e batismal, pavimentos em cantaria de granito; coberturas, guarda do púlpito, retábulos, confessionários, portas e estrados de madeira; tirantes metálicos; janelas com vidro simples; coberturas exteriores em telha.

Intervenções: PROPRIETÁRIO: séc. 20, final - arranjo das coberturas; refechamento das juntas e pintura das mesmas; limpeza das cantarias.

DESCRIÇÃO EXAUSTIVA

Planta longitudinal composta por nave, capela-mor mais estreita, torre quadrangular e sacristia adossadas à fachada lateral esquerda, de volumes articulados de disposição horizontalista, cortada pelo corpo da torre, com cobertura homogénea na nave e capela-mor em telhado de duas águas, e de uma água na sacristia, sendo em coruchéu bolboso na torre sineira.

Fachadas em alvenaria de granito aparente, exceto a da capela-mor em cantaria de aparelho isódomo, com as juntas pintadas de branco, percorridas por embasamento saliente, flanqueadas por cunhais apilastrados, formados por pináculos piramidais com bola, e rematadas em friso e cornija.

Fachada principal virada a Oeste, em empena, com cruz latina sobre plinto no vértice, rasgada por portal de verga reta, com moldura simples e ladeado por pilastras de fustes almofadados que sustentam friso também almofadado e ostentando a data "1768" e frontão triangular, vazado por óculo circular com moldura simples; o portal está flanqueado por duas janelas retilíneas com grades de ferro, moldura simples e remate em cornija pouco saliente.

No lado direito e em nível ligeiramente recuado, a torre sineira *1, de dois registos divididos por friso e cornija e flanqueada por duas ordens de pilastras toscanas, as inferiores sobre altas bases paralelepipédicas, o primeiro rasgado por óculo quadrilobado e o segundo com uma sineira em cada face, em arco de volta perfeita que arranca de pequeno friso; remate em friso, cornija e platibanda balaustrada, com pináculos galbados nos ângulos; o acesso processa-se pelo exterior, através de porta em arco abatido e moldura simples, rasgada na face E., de onde evolui uma escada em caracol, em cantaria. Fachada lateral esquerda, virada a N., rasgada por porta travessa de verga reta e moldura simples, com a data "1878", flanqueada por pilastras toscanas de fustes almofadados, que sustentam friso com a data "1768", cornija e frontão interrompido por concheado e palmeta; surgem, ainda, duas janelas retilíneas com grades de ferro, rematadas por cornija interrompida em volutas e concheado e formando avental de perfil recortado e brincos. O corpo da sacristia possui janela quadrangular com grades de ferro, de moldura simples e remate em pequena cornija, tendo, na face O., porta de acesso em arco abatido e moldura simples, antecedidos por degraus de cantaria.

Fachada lateral esquerda, virada a S., rasgada por duas janelas semelhantes às da fachada oposta; a capela-mor tem janela retilínea, em capialço. Fachada posterior em empena cega com cruz latina no vértice, tendo, no lado direito, ligeiramente recuada, o corpo da sacristia em meia-empena, marcado por escadaria de granito e guarda metálica, de acesso a porta de verga reta.

INTERIOR rebocado e pintado de branco, com pavimento em lajeado de granito, tendo tabuleiros de madeira laterais, e cobertura em falsa abóbada de berço de madeira pintada de azul, assente em friso e cornija de madeira, pintados de marmoreados fingidos, e com tirantes metálicos. Portal axial protegido por guarda-vento de madeira e vidro simples, flanqueado por duas pias de água benta, hemisféricas e embutidos nas paredes, criando um pequeno nicho de volta perfeita superior.

No lado do Evangelho, batistério com acesso por vão de arco em asa de cesto, assente em pilastras toscanas e com fecho marcado por voluta; integra pia batismal hemisférica assente em plinto circular, surgindo, no lado do Evangelho, nicho quadrangular para guarda de alfaias. Confrontantes, sucedem-se, dois confessionários embutidos nas paredes, com vão de verga reta e moldura simples de cantaria, protegidos por portadas de madeira. A porta travessa é ladeada por pia de água benta hemisférica e concheada, semiembutida na parede, criando, sobre ela, um pequeno nicho de volta perfeita, concheado; é encimada pelo púlpito, quadrangular e assente em mísula de cantaria, com guarda plena de talha dourada, com elementos concheados e acantos, com acesso por porta rectilínea, sublinhada por sanefa de lambrequins e espaldar recortado.

Confrontantes, duas capelas laterais à face, com retábulos de talha dourada e policroma, inseridos em nicho de volta perfeita, assente em pilastras toscanas de fustes almofadados, assentes em plintos ornados por florões e com fecho concheado; são dedicados à Sagrada Família (Evangelho) e às Almas (Epístola). No lado da Epístola, nicho semelhante aos anteriores, contendo túmulo com inscrição e pedra de armas e constituindo capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição, com o orago sobre mísula de cantaria. Arco triunfal de volta perfeita assente em pilastras toscanas e flanqueado por dois retábulos colaterais, dispostos em ligeiro ângulo, de talha dourada, dedicados ao Sagrado Coração de Jesus (Evangelho) e a Nossa Senhora da Conceição (Epístola); a talha prolonga-se sobre o arco triunfal, envolvendo, numa decoração de acantos.

Capela-mor elevada por dois degraus de perfil curvo, com cobertura em falsa abóbada de berço abatido de madeira, assente em friso e cornija de talha, tendo pintura decorativa, imitando brocados, que enquadra as figuras centrais da Virgem com o Menino, flanqueadas por quatro figuras representando os Quatro Doutores da Igreja, São Tomás de Aquino e São Gregório Magno, no lado do Evangelho, surgindo, no oposto, São Jerónimo e Santo Agostinho; pavimento em lajeado de granito.

As ilhargas da capela são forradas a talha, exceto uma pequena zona no lado da Epístola, onde se rasga uma janela retilínea, em capialço, ostentando pinturas murais decorativas; a talha, na forma de acantos e molduras entrelaçadas, enquadram três tábuas pintadas, representando a Virgem o Menino e Anjos Músicos, óleo sobre madeira de castanho (4400x1290mm), uma Adoração dos Magos, no lado do Evangelho, e uma Adoração dos Pastores, no lado oposto; entre as pinturas, surgem dois nichos sobrepostos em arcos de volta perfeita.

No lado do Evangelho, porta de verga reta de acesso à sacristia. Na parede testeira e elevado por um degrau, o retábulo-mor, de talha dourada e policroma, de vermelho e azul, imitando lacado, assente em sotobanco de cantaria, com planta côncava e três eixos definidos por quatro colunas torsas, decoradas por pâmpanos, assentes em consolas e por quatro pilastras com os fustes ornados por acantos, assentes em plintos paralelepipédicos, que se prolongam em quatro arquivoltas, duas torsas, unidas no sentido do raio, formando o ático, de apainelados de acantos, tendo, no fecho, a figura de Deus Pai; ao centro, tribuna de volta perfeita com a boca rendilhada, tendo o fundo pintado com drapeados falsos, vermelhos, e cobertura em oito caixotões com cenas da vida da Virgem: "Adoração dos Magos" e uma "Adoração dos Pastores", "Quatro Doutores da Igreja", "Virgem com o Menino"; “Santa Ana a ensinar a Virgem a ler", "Anunciação", "Sagrada Família" e "Passamento da Virgem"; nas ilhargas, quatro painéis pintado com os Evangelistas; tem, no centro, trono de três degraus com peanha expositiva. Os eixos laterais formam apainelados retilíneos de acantos, contendo mísulas com imaginária. Na base da tribuna, sacrário envolvido por acantos e dois anjos de vulto, que sustentam a pomba do Espírito Santo e uma coroa fechada; a porta é decorada por um "Agnus Dei".

Altar em forma de urna com decoração de acantos e concheados, flanqueado por duas portas retilíneas de acesso à tribuna, ornadas por acantos, dispostos simetricamente. Em frente a este, a mesa de altar, assente em dois plintos graníticos.

 

Bibliografia:

- Ano em Revista, in Terras da Beira, 29 Dezembro 2005;

- Dicionário enciclopédico das freguesias, vol. 2, Matosinhos, 1998;

- SERRÃO, Vítor, “Uma obra-prima em Aldeia Viçosa”, in Público, 16-05-2000;

- SERRÃO, Vítor, Le Tableau de Grão Vasco à Santa Maria de Porco, in Revue de l'Art, n.º 133, Paris, 2001-2003, pp. 57-70.