Natal é sempre que um homem quiser

10-12-2015 14:50

Natal é sempre que um Homem quiser

Todos sabemos que o Natal assinala o nascimento de Jesus e é uma festividade transversal a todas as sociedades. É a época mais festiva em todo o Planeta, independentemente da fé ou não fé de cada um, é uma época de partilha quer seja cristão ou ateu, muçulmano, jeová, hindu, budista ou outras.

O espírito do Natal encerra em si o paradigma da Humanidade: ao respeitar a individualidade de cada um de nós, reconhece-se no que é colectivo e aceita diluir-se em nome de uma ideia de fraternidade partilhada por todos.

Pese embora o termos de reconhecer que o pior da economia de mercado tomou conta desta época tão maravilhosa, dada a fúria consumista que se sobrepôe ao sentimento fraterno e tomou de assalto as nossas carteiras, já de si depauperadas pela crise, pois para algumas pessoas o espírito da época natalícia é apenas o do consumo de bens supérfulos, incentivados pela publicidade e pela imitação do que vêem nas televisões, revistas ou na casa do vizinho.

Muitos de nós já substituímos os cartões de Boas Festas pelos mails, os mails pelos presentes virtuais no Facebook  - e nessa sucessão de mensagens, vemos como os tempos foram eliminando e relegando para segundo plano o contacto “real” com os nossos familiares, amigos, colegas e vizinhos.

Creio que se não cultivarmos o espírito de partilha, poderemos estar a perder a essência do Natal - que é a do culto da família, o culto da amizade e o culto da partilha.

Por vezes refugiamo-nos no mínimo denominador comum, substituindo o bacalhau e o polvo frito por um leitão comprado à pressa, os sonhos e filhoses pelos coscoroes comprados num hipermercado qualquer.

Penduramos um Pai Natal a trepar na varanda, enrolamos uma luzes a piscar na árvore de Natal, substituimos o tradicional presépio com musgo (que apanhavamos nas rochas graníticas no entorno da nossas aldeia) - para de certa forma camuflarmos a falta de comunicação com o vizinho, amigo ou familiar, pois não soubemos cultivar o contacto face a face.

 

Uns dias depois da Consoada, ao desmontarmos a árvore e ao retirarmos o Pai Natal do chinês da varanda sentimos que todos estes rituais dão lugar ao “back to reality”, ou seja, voltamos a um quotidiano em que cada vez temos menos contacto com a comunidade onde estamos inseridos.

 

Então pensamos: daqui a dias será Ano Novo, haverá passas, champanhe e muita dança para alguns. Mas esquecemos que para outros haverá apenas dor e solidão, nostalgia e depressão.

Tinha razão Ary dos Santos, o poeta da canção Desfolhada  - que Simone de Oliveira tão bem interpretou no Festival da Eurovisão, quando falava do “sabor amargo em cada doce que eu comprei”…

Mas não desanimemos. O Natal deve ser “quando um homem quiser”, deve ser todos os dias, desde que partilhemos com os outros as nossas alegrias e as nossas tristezas, pois sem os Outros nada faz sentido.

 

Caros conterrâneos, neste Natal de 2015 sugiro que mirem com olhos de ver, tudo o que vos rodeia.

Vejam que afinal não é assim tão mau e se soubermos detetar os sinais, veremos que a Natureza e as pessoas continuam a surpreender-nos pela positiva, nas coisas mais simples da vida.

 

Lucinda Coutinho Duarte, Socióloga

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